quarta-feira, 30 de maio de 2012

O pastor terceirizado.

     Pastorear é um dom, uma vocação. Mas tem se tornado, para muitos, uma profissão. Com o evento das mega-hiper-super-master-blaster- igrejas, uma profissão e tanto. Certo colega me contou que recebeu uma proposta de uma dessas igrejas midiáticas oferecendo-lhe um salário inicial de R$ 8.000,00. Nada mal para quem deseja ingressar no ministério. 
     Alguns poderão objetar: " - mas o ministério é árduo, não tem insalubridade e tem levado muitos ao stress antes dos 40 anos". Concordo. Mas um bom salário o livraria disso? Suspeito que não.
     Segundo pesquisa norte-americana (ou estadudinense), cerca de 1500 pastores abandonam o ministério por ano naquele país. O número de divórcios entre pastores aumenta vertiginosamente e escândalos envolvendo sexo, dinheiro e poder, proliferam de modo assustador. Estaria o ministério pastoral em crise. Acredito que não. O que está em crise não é o ministério pastoral, mas o modelo pastoral adotado por grande maioria de "igrejas" que exigem do "homem do púlpito", algo mais que um mestre na Palavra, um conselheiro amigo e um servo misericordioso ao lado dos que sofrem. Exige tino administrativo, faro empresarial e liderança capacitadora para empreendedorismo religioso, algo totalmente divorciado da vocação pastoral tal qual a vemos nas escrituras.
     Certa vez ouvi um colega se referir a outro dizendo: "Aquele pastor ali, ó, é um ladrão de ovelhas", referindo-se ao fato de haver perdido membros de seu rebanho para o rebanho do dito pastor. Engraçado. Eu sempre achei que os pastores não eram donos de seus ovelhas. Sempre pensei que fossem meros servidores. Se eu perdi ovelhas para outro pastor é porque eu as possuía. Só perco o que é meu. Profissionais pensam assim. Vocacionados, nunca!
"Não procurem dominar os que foram entregues aos cuidados de vocês, mas sejam um exemplo para o rebanho", diz Pedro, o apóstolo, em sua primeira carta, capítulo 5, verso 3.
     Creio que pastores de verdade são terceirizados. Pedro sabia disso, e após seus sábios conselhos conclui: "Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória" (vs 4). É isso aí! Somos terceirizados pelo Supremo Pastor. Pastoreamos as ovelhas dele. Ninguém é de ninguém. Com esse pensamento, chegando aos meus 25 anos de ministério pastoral, posso afirmar, categoricamente, que nunca perdi uma ovelha sequer para outro colega ou denominação, pois nunca possui ovelha alguma, "porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém" (Rm 11:36).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pastor: não caia no engano de agradar sua audiência.


Entrega


Deixe pra lá! Releve! Perdoe!
 
Tenho percebido que essas são palavras difíceis para algumas pessoas, e fáceis para outras. E o que está por trás dessas atitudes me intriga. 
 
Parece que algumas pessoas têm uma grande capacidade de “deixar pra lá”, de relevar uma ofensa, de esquecer um agravo. É como se não se apegassem às coisas. Na hora da perda, não sofrem muito. Porém, não lutam tanto pelo que acham importante. Sem luta, não há vitória. 
 
Outras parecem incapazes de abrir mão. Então, tudo o que a vida lhes tira, produz a dor de um assalto, de uma violência.
 
Entre estas últimas, as que mais me chamam atenção são aquelas que não “abrem mão” de suas razões. Seja em uma simples conversa, que acaba em discussão, seja em uma questão de direito, apegam-se às suas razões até às lágrimas. E se, após muitas lutas, essas coisas lhes são “tomadas”, entram em desespero de morte. 
 
As pessoas do primeiro grupo sofrem menos, por não se apegarem demasiadamente. Não lutam tanto, não retêm tanto. Não perdem muito, mesmo quando são abusadas.
 
Entretanto, conheço gente que é capaz de se lembrar de todas as violências sofridas ao longo da vida. Coisas que lhes foram tiradas, batalhas perdidas, conversas encerradas, desconsiderações, injustiças, votos vencidos, estão todos lá, no depósito de passivos, de haveres, aguardando ressarcimento.
 
Sim, a vida (que acaba assumindo nomes de pessoas) lhes deve. Se algo nunca foi entregue, então lhes foi tomado. Se nunca foi perdoado, ainda é “dívida ativa”. Se nunca foi esquecido, está registrado para oportuna cobrança.
 
Talvez uma pessoa assim considere aquele que “deixa pra lá” um leviano. E talvez o que releva e esquece considere aquele que não “abre mão” um infeliz briguento. 
 
Lembro-me de ter “deixado pra lá” direitos de consumidor, só para não arranjar briga. Porém, lembro-me de ter “pendurado” ofensas, aguardando o pedido de desculpas. Recordo-me de ter dado razão a quem não a tinha, para preservar a amizade, e de ter “aberto mão” da amizade por não achar justo “deixar barato”.
 
Certa vez, deparei-me com uma frase usada em um curso para noivos: “O que você prefere: ter razão ou ser feliz?” -- como que a dizer que, se eu quisesse ter sempre razão, seria infeliz! Será que essa pergunta não nos ajudaria a definir melhor a qual grupo pertencemos?
 
Eu confesso: naquele exato momento me descobri preferindo ter razão. E argumentei para mim mesmo que a felicidade, à custa do que é certo, não vale a pena. Senti-me como a formiga invejosa, criticando a alegria “irresponsável” da cigarra.
 
Nesse momento, ouvi a palavra de Paulo aos coríntios conflagrados: “[...] por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” (1Co 6.7).
 
Ocorre-me então que talvez a atitude correta não seja o “deixar pra lá”, mas a entrega. Em vez de esquecer, entrego meus direitos, bens e razões ao reto Juiz. Assim, as coisas não ficarão sem consequência, sem julgamento, sem resposta. Contudo, estarei “deixando pra lá”, em um ato de fé, para ser feliz.
 
Imagino que, por esse caminho, Deus me acrescentará o orar pelos meus inimigos e me alegrará ao vê-los abençoados.
 
 Rubem Amorese é presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, e foi professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília por vinte anos. Antes de se aposentar, foi consultor legislativo no Senado Federal e diretor de informática no Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários -- nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br
Fonte: www.ultimato.com.br 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lições de liderança no livro de Jó.


A liderança evangélica está em crise.  Profetas do óbvio, pregadores da auto-ajuda, mensageiros da vitória e atores eclesiásticos com suas mais exuberantes performances, dão seu show dominical à templos cheios de pessoas vazias. A fé está sendo descaradamente comercializada.

Há quem diga que estamos em pleno avivamento. Confundem números com mover do Espírito. Música com adoração. Retórica com proclamação. A pregação da Palavra de Deus e o sagrado ministério pastoral parecem estar em decadência. Os pastores (leia-se em alguns casos bispos, apóstolos, e por aí vai) estão se aperfeiçoando em gestão ministerial, marketing pessoal, batizando seus ministérios com seus próprios nomes.

Geralmente olhamos para Jó como alguém que deveria ser provado para emergir de sua justiça própria em direção a revelação de Jeová Deus. Não me lembro de ter atentado para sua vida antes das perdas e danos.  Seu testemunho "dava de dez a zero" na maioria dos líderes espirituais de hoje: "Todas as pessoas me davam atenção e em silêncio escutavam os meus conselhos. Quando acabava de falar, ninguém discordava. As minhas palavras entravam na cabeça deles como se fossem gotas de água na areia. Todos as esperavam ansiosos, como se espera a chuva no tempo de calor. Eu sorria para aqueles que tinham perdido a esperança; o meu rosto alegre lhes dava coragem. Eu era como um chefe, decidindo o que eles deviam fazer; eu os dirigia como um rei à frente do seu exército e os consolava nas horas de aflição" (Jó 29:21 à 25). 

Alguns podem achar que Jó se arrogava deste estado de coisas, desse nível de influência. Mas a Bíblia não deixa isso claro. Sua provação lhe serviu para revelar-lhe mais sobre Deus. Isso é certo. Mas antes de ser provado, Jó se revelara um líder espiritual de primeira linha, um pregador de mão cheia. Convenhamos: quem hoje em dia teria algo assim para dizer sobre si mesmo:

"Eu jurei que os meus olhos nunca haveriam de cobiçar uma virgem" (31:1). "Nunca deixei de ajudar os pobres, nem permiti que as viúvas chorassem de desespero. Nunca tomei sozinho as minhas refeições, mas sempre reparti a minha comida com os órfãos. Eu os tratava como se fosse pai deles e sempre protegi as viúvas.Quando via alguém morrendo de frio por falta de roupa ou notava algum pobre que não tinha com que se cobrir, eu lhe dava roupas quentes, feitas com a lã das minhas próprias ovelhas, e ele me agradecia do fundo do coração" (31:16 à 20).

"Jamais confiei no ouro; ele nunca foi a base da minha segurança.Nunca me orgulhei de ter muitas riquezas, nem de ganhar muito dinheiro" (31:24,25).

"Jamais me alegrei com o sofrimento dos meus inimigos, nem fiquei contente se lhes acontecia alguma desgraça"(31:29).

"Jamais procurei encobrir as minhas faltas, como fazem algumas pessoas, nem escondi no coração os meus pecados"(31:33)".

Jamais imaginei fazer de Jó, antes do sofrimento,  um de meus mestres! Sei que alguns dirão que estou ferindo a hermenêutica, forçando a barra e tirando leite de pedra. Mas não me importo. Preciso encontrar exemplos, modelos que me inspirem e me levem mais além.

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos salve desta degeneração mortal em que a liderança espiritual está mergulhando. Se estamos como estamos, é porque temos deixado de olhar para Jesus, o líder por excelência, "manso e humilde de coração". Os que desejam ser piedosos, dedicados, buscando santificação, estão sendo criticados e acusados de legalismo. Em nome da "graça" estão vivendo em desgraça moral e espiritual. A graça de Deus nunca foi uma carta branca para pecar e sim o poder infinito de Deus em buscar e salvar pecadores desgraçados transformando-os em santos homens e mulheres de Deus.
sergiomarcos59@hotmail.com 

sábado, 19 de maio de 2012

Dízimos: devoção ou dever?

     Acho um absurdo o que alguns pastores fazem com o rebanho para obter recursos financeiros para a igreja. Na verdade são apenas duas modalidades: ameaça ou manipulação.
     Pastores que ameaçam o povo chamam de "ladrão" quem "sonega" o dízimo. Já ouvi coisas do tipo: "membro que não dizima deve ser excluindo do rol". Usam  o texto de I Coríntios 6:10 como "base bíblica" ou seja, "roubadores não herdarão o reino dos céus". Também usam e abusam de  Malaquias 3:8 à 10 para espancar a igreja. É isso mesmo! Batem no povo à valer e esbravejam palavras ameaçadoras, "profetizando" pragas egípcias das mais catastróficas. As pessoas se encolhem nos bancos e depois, trêmulas, decidem ser "fiéis" dizimistas. Há porém quem use da inteligência, (um dom de Deus, diga-se de passagem) e ponderam sobre essa tal obrigatoriedade do dízimo. Algumas, todavia,  deixarão de frequentar a referida igreja.
     Por outro lado, há pastores que manipulam. Sabem que boa parte dos frequentadores possuem sentimentos de culpa não resolvidos e usam isso para manipular. São mais sutis. Costumam dizer: " - Dizimar é uma virtude cristã e se você dizima com fidelidade, Deus te abençoará de modo diferenciado". Apelam para a famosa frase: "Deus abrirá as janelas do céus sobre você, e você prosperará". "É dando que se recebe". "Se você está na pior é porque ainda não se tornou um fiel dizimista". São frases de inspiração bíblica, mas a motivação do pregador pode não ser tão bíblica assim.
     Mas afinal: o dízimo é ou não é obrigatório. A resposta a essa pergunta é um retumbante NÃO. O dizimo não é obrigatório. Não há uma menção sequer no Novo Testamento sobre a obrigatoriedade do dízimo. Por outro lado, não se menciona que a prática do dízimo tenha sido abolida ou suplantada por um mandamento maior. Como resolver essa questão?
     O ato de dizimar não deve ser encarado como dever, mas  como devoção. Os fariseus dizimavam o endro, a hortelã e o cominho e foram confrontados por Jesus e tidos como hipócritas. Jesus disse que deveriam dar o dízimo, mas sem esquecer a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23). Dizimar movido por medo ou com o intuito de ver "chover dinheiro sobre a cabeça" é um ato carnal, mundano e condenado nas Escrituras como farisaísmo.  
     "Cada um deve resolver por si mesmo quanto vai dar. Não forcem ninguém a dar mais do que realmente deseja, pois Deus aprecia os que dão alegremente" (2a Coríntios 9:7 - VIVA). 
     Sou dizimista a mais de 30 anos. Testemunho a favor dessa prática, mas advirto: dizimar sem devoção, sem alegria, ignorando que se trata de um ato de adoração, é contrário ao espírito das Escrituras e os pastores que amedrontam ou manipulam terão que prestar contas diante de Deus por abuso espiritual e falta de temor a Deus.

sergiomarcos59@hotmail.com

quarta-feira, 2 de maio de 2012

NÃO QUERO MAIS SER EVANGÉLICO - Ariovaldo Ramos


Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro.

Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por 'profissionais da fé'. Voltemos à consciência de que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.

Chega dessa 'diabose'! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.
Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome 'meu', mas, o pronome 'nosso'.

Para que os títulos: 'pastor', 'reverendo', 'bispo', 'apóstolo', o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, 'onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei' de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!

Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao 'instruí-vos uns aos outros' (Cl 3. 16).

Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. '(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras 'todo o Evangelho ao homem... a todos os homens'. Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que 'acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos', sem adulterar a mensagem.

Fonte: Publicado em 23 de junho de 2003 no site da Rede Sepal, de autoria do Pastor Ariovaldo Ramos.