Pr. Sérgio Marcos
Amizade, não coleguismo.
A principal tarefa de quem deseja iniciar um conselho de pastores em sua cidade é procurar desenvolver amizades significativas entre os “colegas” de ministério. A experiência comprova que pastores não são amistosos entre si. Há muito ciúme, competição, exibicionismo e falta de modéstia na classe que deveria ser “mansa e humilde” como Jesus. Com “amigos” me refiro a encontros casuais além dos formais. Gente que se conhece, compartilha lutas e vitórias; incentivam-se mutuamente e não procuram interesses denominacionais, mas o bem estar do outro. Se os pastores do conselho não forem amigos, não haverá conselho de pastores.
Unidade, não união.
Qual a diferença? Um exemplo “bem batido” é o do saco de batatas comparado ao purê de batatas. No primeiro há união. No segundo, unidade. Assim como o leguminoso do exemplo (ou seria raiz?) é preciso remover a casca e deixar-se esmagar. No linguajar “evangeliquês”: tirar as máscaras e humilhar-se. Um conselho de pastores só será um instrumento poderoso nas mãos do Senhor quando a unidade do Espírito for preservada pelo vínculo da paz o que só acontecerá com líderes quebrantados, numa unidade em amor.
Visão de Reino, não partidarismo.
Pastores deveriam ser, acima de tudo, homens de Deus. Espera-se que falem em nome de Deus, chorem as lágrimas de Deus, lutem com Deus nas batalhas de Deus e edifiquem a igreja de Deus. Jesus foi claro quando disse “o meu Reino não é deste mundo”. Insistiu dizendo ainda: “vós não sois do mundo como eu do mundo não sou”. As denominações divergem quanto ao assunto e cada uma irá assumir esta ou aquela posição. No entanto, creio que um conselho de pastores deveria manter-se neutro e unido unicamente sob a bandeira da cruz.
Submissão em amor, não hierarquia.
Para que um conselho funcione com certa ordem uma organização se faz necessária. Daí haverem presidentes, secretários e tudo mais. No entanto, pastores tendem a ser formais ao extremo, transformando um expediente organizacional em hierarquia pesada. A mentalidade de caserna não funciona num conselho de pastores. Em oração, todos são iguais perante o Senhor. Não importa quão grande ou influente seja a denominação de alguém, ou quantos membros sua igreja tenha, ou quanto tempo determinado pastor está na cidade, ou qual sua faixa etária ou graduação. O que importa é que “Cristo é tudo em todos” e devemos nos sujeitar uns aos outros conforme a ordem bíblica.
Ênfase em Cristo, não na doutrina.
Há quem discorde, claro. Mas qualquer um que ame a Bíblia e a Igreja irá concordar comigo que há doutrinas inegociáveis como as que se relacionam com cristologia e soteriologia. Há porém doutrinas de peso secundário que podem atrapalhar a unidade, dependendo da ênfase dada por determinada denominação. Somos salvos por uma Pessoa, não uma doutrina. Devemos buscar nossa unidade em Cristo e não em nossas construções teológicas. Nele somos um. Vivendo nele, por ele e para ele, estaremos preservando a unidade.
Ter como capela a cidade, não a denominação.
Aqui muitos esbarram. A Bíblia é clara em afirmar que Deus é Deus de cidades, não de denominações. Nínive, Babilônia, Jerusalém, Jericó, Antioquia, Conrinto, Filipos, Tessalônica. Denominações existem, tem sua importância histórica, cultural e espiritual, mas não podem (nem devem) interferir na unidade da Igreja de Cristo em uma determinada cidade ou jurisdição. Há apenas uma Igreja de Cristo numa localidade. E quando esta Igreja está vivendo em unidade, é a principal força existente na face da Terra. Nem a Prefeitura, nem a OAB, nem a Polícia Militar, ou qualquer outra autoridade pode enfrentar demônios que controlam determinados segmentos sociais de opressão. Só a unidade da igreja pode fazer esse enfrentamento. O evangelismo não pode ser um trabalho isolado desta ou daquela denominação, mas um esforço conjunto. O mesmo com respeito a intercessão ou a vóz profética. No poder da unidade cidades inteiras estão sendo transformadas.
Como dar o start?
Se deseja começar um conselho de pastores, procure aqueles com quem tem mais afinidade e estabeleça uma agenda de reuniões de oração mensais num período de seis meses. Forme uma base sólida com poucos. A partir daí, comece a convidar outros pastores para integrarem este grupo inicial. Deixe de lado, a princípio, documentos como estatutos, códigos e ética, declarações de fé, etc. Forme um grupo de amigos e desenvolva com eles uma ligação cristã antes de qualquer vínculo institucional. A partir de então estude os problemas de sua cidade, identifique onde estruturas de opressão estão atuando e promova uma ação conjunta de oração e enfrentamento desta situação. Deus fará muito mais do que você imagina, por meio da unidade de seu povo. Experimente e verá.