Caio
Fábio D’Araújo Filho ainda é uma das principais personalidades do universo
cristão contemporâneo, conhecido no Brasil e no exterior.
Não
é para menos. Com um ministério evangelístico extraordinário, dono de uma oratória
diferenciada devido à erudição aliada à espiritualidade, foi amado por pentecostais
e tradicionais, tendo sido considerado um verdadeiro porta-voz da igreja
evangélica brasileira. Um Francis
Shaeffer tupiniquim, um Billy Graham
brasileiro como queriam alguns.
Não
foi o caso...
Após
a criação da VINDE – Visão Nacional de Evangelização, que o levou a realizar
inúmeras cruzadas evangelísticas por todo o Brasil, a publicar dezenas de
livros e edificar um dos maiores complexos assistenciais da América Latina, A Fábrica de Esperança, foi envolvido
(ou envolveu-se?) no escândalo do “Dossiê Caimã”, de falsas denúncias contra o
então Presidente Fernando Henrique Cardoso e, posteriormente, em episódio de conduta
sexual extraconjugal que culminou com o término do casamento com Alda, sua
esposa, o que gerou profunda dor em todos que o admiravam.
Quantos “Caios Fábios”
existem?
Atualmente
Caio Fábio lidera um movimento chamado “Caminho da Graça” que muitos definem
como uma igreja emergente (ou alternativa), mas longe de ser o flamejante
pregador de meados dos anos 70 até o final dos anos 90.
O
que quero dizer com “Caio Fábio, qual
deles?”. Identifico em sua vida três fases: 1) o pregador e líder cristão
notável, 2) o servo arrependido e disposto a recomeçar e 3) o líder
“alternativo’ de hoje.
Minhas
considerações não visam atingir a pessoa de Caio. Seria muita pretensão! Até
por que o mesmo considera-se muito bem resolvido e decidido a permanecer no
cenário emergente com uma mensagem diferente da que pregou por tantos anos.
Minha
intenção é levar à reflexão pessoas que o conheceram no passado e estão confusas
diante do Caio Fábio atual, colocando-as diante destes três momentos a fim de
que possam distinguir o caminho da graça de Deus do caminho da graça “segundo
Caio Fábio”.
Pregador e líder inter-denominacional.
Caio
teve uma carreira ministerial meteórica. Inserido numa grande e respeitada denominação,
foi incentivado a ir além dos limites denominacionais. Escritor profícuo,
também dirigiu vários congressos com ênfase na ética ministerial,
espiritualidade, integridade cristã e vida familiar. Suas pregações (em fitas
cassetes na época) espalharam-se por todo território nacional. Conheço pessoas
que chegaram a ouvir a mesma mensagem várias vezes, tamanha era a unção com que
ministrava. Expunha o Novo Testamento com maestria e seu tema central sempre
foi JESUS. Um de seus trabalhos mais bem escritos (segundo meu ponto de vista)
foi o opúsculo: “Seguir Jesus: o mais
fascinante projeto de vida”. Esse Caio Fábio dedicou-se a uma Igreja (não à
denominação) que não o merecia, e foi engolido pelo sistema evangelicalista.
Transformado “em coisa”, foi um depósito de ética a um povo que mal sabia o que
essa palavra significava. Içado a uma posição acima de sua humanidade, sucumbiu
desgraçadamente, sendo vitima e vilão de si mesmo.
Arrependido e disposto a
recomeçar.
Após
a divulgação do triste episódio, que demorei a acreditar ser verdadeiro (e não
somente eu, mas milhares de pessoas que o admiravam), refugiou-se nos Estados
Unidos de onde concedeu uma entrevista a Revista Vinde, cujo exemplar possuo
até hoje: Ano IV – Nº 47 – Outubro de 1999.
Nesta
entrevista, percebe-se o tom de tristeza, decepção (consigo mesmo) e o desejo
de se retratar.
“- Um pastor divorciar-se é
triste, mas um pastor como eu se separar por conduta sexual fora do casamento é
muito pior”.
Nesta
frase é possível perceber que Caio Fábio está consciente do papel que
desempenhava no cenário evangélico brasileiro e o tamanho do estrago que seu
erro causou. Seus congressos sobre vida familiar eram freqüentados por milhares
de pastores e esposas e sua conduta colocou em xeque sua mensagem. Sobre esse
assunto, fez o seguinte comentário:
“- A verdade que prego não
se tornou menos verdade; ao contrário, voltou-se contra mim e me tratou com
imparcialidade”.
Essa
lucidez sempre foi uma marca característica, não só do Caio Fábio pregador, mas
da pessoa humana que é.
Não
posso deixar de fazer mais uma citação, onde Caio deixa evidente um dos seus
principais equívocos:
“- Dentro de mim havia uma
certeza enorme, mas idiota, arrogante e pecaminosa, de que, se alguém que
tivesse que dar a cara ao movimento evangélico no Brasil, que fosse eu, porque
me considerava alguém de quem a Igreja não iria se envergonhar”.
Mas
este Caio, ainda lúcido e consciente de visibilidade e projeção que possuía,
não permaneceria por muito tempo. Um terceiro Caio Fábio estava para surgir,
para alegria de uns e perplexidade de outros.
O “terceiro” Caio Fábio.
Em
entrevista recente a revista Cristianismo
Hoje (Edição 27- Ano 5) com o título, “Eu só quero viver em paz”,
Caio foi abordado por retornar à mídia devido a reabertura do processo “Dossiê
Caimã”, do qual foi condenado. Perguntado sobre sua condição na
denominação, disse:
“- Eu nunca quis ser pastor
ordenado (...). Foi a Igreja Presbiteriana que disse que não era possível que
eu fosse considerado pastor... sem ser ordenado e sem aceitar ir para o
seminário”.
Mas
logo em seguida diz o que (acredito eu) o tornou “o terceiro” desta lista:
“- O que eu não queria, depois do
acontecido, era ter que me curvar a nenhum tipo de restauração humana,
mentirosa, hipócrita e plástica que queriam me oferecer. Eu sabia que o único a
me restaurar era o Senhor. Eu não aceitaria nada que não viesse daquele que me
ungiu, sabendo que entrar naquele esquema era vender a minha alma. Então eles
aproveitaram essa minha atitude para vender ao povão a idéia de que eu estava
rebelado contra a comunhão dos santos e o amor dos irmãos”.
São
palavras fortes, mas que trazem nas entrelinhas o estado de espírito que
dominou seu coração. Podemos notar uma acentuada diferença entre a entrevista
de 1999 e a de 2012. É a mesma pessoa, mas sem dúvida, outro Caio Fábio.
Atualmente.
Bem
diferente do segundo, o atual é um crítico mordaz da igreja evangélica e atira
em todas as direções. Não consegue separar alhos de bugalhos. Até tenta, mas se
tiver liberdade e espaço, não poupa quem quer que seja. Sua linguagem outrora
cuidadosa, hoje é recheada de termos chulos, ignorando a advertência paulina em
(Ef 4:29 – 5:4 e Tt 2:8). Nem mesmo a recém criada Aliança Evangélica ficou de fora. Sem o menor pudor, chamou seus
fundadores de “bundões”, expressão que pode conter inúmeros significados devido
ao regionalismo. Polêmico, causou espanto ao atacar a igreja “Bola de Neve” como ataca a Igreja Universal. Seus
pensamentos sobre o movimento gay, masturbação, divórcio entre outros, não são
apenas expressão de seu pensamento (hoje bastante heterodoxo), mas ataques frontais
com nome e endereço.
Recentemente, num talk show da TV brasileira, revelou ao público que aos 7 anos teve "relações" sexuais com uma moça bem mais velha e que "adorou". Será que o Caio atinou para o fato de que suas palavras poderiam ser entendidas como apologia ao abuso sexual infantil?
Recentemente, num talk show da TV brasileira, revelou ao público que aos 7 anos teve "relações" sexuais com uma moça bem mais velha e que "adorou". Será que o Caio atinou para o fato de que suas palavras poderiam ser entendidas como apologia ao abuso sexual infantil?
Mas Caio
ainda possui inúmeros admiradores, sendo que alguns sentem a necessidade de
filtrarem seu conteúdo, mas uma parte considerável, bebe a “largos sorvos”
desta fonte.
Palavras finais.
Esse
artigo, repito, não tem a intenção de atacar Caio Fábio e nem servir “pedras”
nas mãos (ou no site/blog) de um franco atirador. Desejo contribuir para que o
discernimento espiritual esteja em alta e que sigamos o conselho do apóstolo Paulo:
“observe tudo, mas retenha apenas o que for proveitoso”.
Um
pastor que cai em imoralidade sexual, não deveria mais exercer o ministério, a
bem das ovelhas. Preste atenção: não estou dizendo que pastores divorciados deveriam abandonar o ministério, mas os que caíram em imoralidade sexual. Há casos em que ministros do evangelho foram traídos e abandonados pelas esposas. Não foi o caso do Caio. Poucos autores se
atreveram a manifestar suas opiniões sobre o assunto. Só encontrei dois que tiveram
esta coragem : Charles
Swindow em seu livro “A Noiva de Cristo” (1) e Augustus Nicodemus Lopes em sua obra “O que estão fazendo com a
igreja” (2). Não que Deus seja incompetente para restaurar, mas para que o
rebanho seja poupado (1ª Pd 5:3). Respaldar-se no fato de que Davi é considerado um homem
segundo o coração de Deus mesmo tendo sido adúltero e homicida, demonstra
exegese pobre e completa falta de temor. Após seu pecado, Davi nunca mais foi o
mesmo, sofrendo duramente até o dia de sua morte. Além do mais, permaneceu no
cargo devido ao sistema monárquico e o profundo grau de arrependimento que
demonstrou. Davi pode ser exemplo em muitas áreas, mas na esfera da moral
sexual e vida familiar, foi um fracasso.
Sei
que meu telhado é de vidro e me preocupo seriamente com minha vida, testemunho
cristão e ministério. Li e reli várias vezes o famoso livro de Caio Fábio “A síndrome de Lúcifer”, o qual, a meu
ver, foi publicado cedo demais, fazendo com que seu autor se tornasse vítima da
mesma síndrome que tão bem discerniu.
Não
nos cabe, em absoluto, julgar Caio Fábio: o irmão na fé, o filho de Deus, o crente em Cristo.
Mas devemos questionar as reais intenções do ministro, mestre e líder e do conteúdo de seus ensinos. Que esse artigo
contribua para isso.
Sérgio Marcos
sergiomarcos59@hotmail.com
Por favor, leia também neste mesmo blog o artigo "Razões por que escrevi o artigo 'Caio Fábio, qual deles', para compreender um pouco mais de minhas motivações. Obrigado.
(1) Editora Vida
(2) Editora Mundo Cristão
Pastor, sempre admirei o Pr. Caio. Li alguns de seus livros e acompanhei as últimas notícias sobre "O caminho da Graça". De td o que se falou guardo para mim: "Aquele que está em pé, cuide-se para que não caia". E não me refiro somente a ele, ou a outros líderes... falo de mim.... Um grande abraço na paz e no discernimento do Senhor!
ResponderExcluirÉ preciso seguir o conselho de Paulo: “observe tudo, mas retenha apenas o que for proveitoso”.
ResponderExcluirRealmente o Caio Fábio é um homem à frente de seu tempo, assim como outros que eu conheço. Sou uma ouvinte da Vem e Vê TV, o canal que ele transmite as mensagens. Gosto dele. Gosto da profundidade com que expõe a Palavra e como ela é exposta. Acho que hoje ele é menos hipócrita do que um dia foi.
Mas sempre temos que estar atentos ao conselho de Paulo citado acima pois o Caio não é santo, ele é homem, como todos nós e sujeito a todos os tipos de aflições e erros.
Gosto também da coragem dele em defender a Igreja de Cristo, que convenhamos tem seguido um caminho totalmente diferente do que Deus, em sua Palavra planejou.
Enfim, tenho mais motivos para admirá-lo do que pra odiá-lo.
Senti que o artigo me colocou diante dessas duas possibilidades (amar ou odiar) me levou a escolher um dos lados, embora fale que o intuito não é julgar.
Um grande abraço, Pr. Sérgio. Homens como o senhor está em falta na Igreja de Cristo.
disse tudo. Gosto dele, mas realmente hoje ele atira para todos os lados e prega um liberalismo perigoso. Que aos ouvidos de muitos soa bem por que +e isso que muitos querem, ou não querem, compromisso. Concordo com cerca de 70% do que ele fala,mas sempre deixa uns 30% de rancor, magoa, e insanidade falar....
ResponderExcluirAcredito que Deus permita coisas e coisas na vida de homens para que atinjam camadas que de outra maneira não seria possível se atingir. É só verificar a vida de Paulo. Se eu tivesse clareza de entendimento nas duas primeiras fases de Caio Fábio, que o pastor citou, com certeza não iria dar ouvidos, pois seu homem ali falava muito mais alto do que sua alma consciente do evangelho. Graças a Deus, era muito novo na época para poder me frustrar e só vim a conhecer o Caio Fábio terceiro, desse seu artigo, o qual me fez entender finalmente o evangelho que bagunçaram por anos na minha cabeça. Eu me sentia uma ovelha negra dentro da igreja, me culpava o tempo todo por ter uma perspectiva muito diferente de tudo que via e ouvia. Sentia que Deus não me perdoaria por aqueles pensamentos "errados", até eu conhecer e me identificar com o Caio Fábio, que só fala aquilo que eu já sabia, mas faz eu entender que eu não estava tão equivocado como eu pensava. Os cristãos estão de saco de cheio de moralidades e códigos de conduta. Analisar as escrituras com pureza é o que está faltando e isso ele faz muito bem. Sobre os ataques, acho divertido e coerente, pois só vejo ele atacar gente hipócrita e mentirosa. Nunca vi ele atacar um cordeirinho humilde qualquer. Ele tá aí pra denunciar aquilo que ele possa até ter sido um dia, portanto ele tem propriedade pra falar. E no meio de tanta gente tola enchendo a boca pra falar de Jesus, eu acho que ele tem é mais que denunciar e esculachar mesmo, pois ele não o faz contra o espírito de ninguém, mas sim contra o império da mentira que se realiza todos os dias no meio chamado cristão e evangélico no Brasil. No mais, acredito que é isso mesmo, temos que comparar tudo que ele diz com a luz da palavra, e pelo tempo que tenho o acompanhado, até aqui, não observei nenhuma incongruência. Agora se eu me deter a observar seu modus operandi, terei um monte de críticas humanas para fazer, mas antes precisaria explanar as minhas, as minhas versões de mim mesmo. Acho mais justo primeiro explanar as minhas caras multifacetadas pra mim mesmo, e deixar as dos demais para que Cristo fale através delas.
ResponderExcluirValeu Marcel. Obrigado pelo seu comentário. Não escrevi para que todos concordem comigo. Fiz apenas algumas observações, procurando evitar juízo de valores (apesar de saber que posso ser interpretado com quem está fazendo exatamente isso) e apenas expor pensamentos. Escrevi outro artigo, que seria interessante você ler: http://pastoresdesantarita.blogspot.com.br/2012/08/caio-fabio-razoes-por-que-escrevi-o.html neste mesmo blog. Abraço.
ResponderExcluirObrigado pelo post! Realmente honesto e colaborador do bom discernimento
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